sábado, 6 de março de 2010

Cena 03 / WE CAGE/ O jogo de ações cotidianas


A bailarina Isabela Schwab toca a "Suite for Toy Piano I" de John Cage.

A “Suite for Toy Piano” é de agosto de 1948. Foi composta no Black Mountain College na Carolina do Norte (EUA) e teve sua estréia no dia 20 de agosto sendo executada pelo próprio Cage numa coreografia de Merce Cunningham intitulada “A Diversion”. Trata-se de uma pequena suíte com 5 movimentos numerados, bastante limitados pela característica fisica do piano de brinquedo. É uma das composições mais charmosas de Cage. É uma peça divertida e irônica. Em 1963 foi arranjada para orquestra.
Em WE CAGE as bailarinas tocam a suíte I em um jogo onde utilizam gestuais do cotidiano como corridas, mudar uma planta de lugar, montar partes ordenadas de um esqueleto, disputar espaço, calçar pantufa, considerando todas as ações e sons como coreografia.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ensaio Fotográfico/ Divulgação WE CAGE


Fotos: Elenize Dezgeniski
Bailarinas: Mariana Batista, Isabela Schwab e Viviane Mortean

Considerações Corporais


A proposta corporal deste trabalho trata-se em desafiar limites do corpo a fim de rasgar o espaço. O corpo se adapta a uma condição espacial determinada a partir de um método aleatório.
Os raciocínios são peças chaves. O raciocínio mental abrange em saber onde estão localizados os 11 dos 20 pontos no espaço que foram sorteados e os quais organizarão toda a composição coreográfica. O outro se trata de um raciocínio físico: adaptar uma estrutura fixa de movimento frente às condições aleatórias de cada ensaio/ espetáculo.
Ativar inteligências mentais, físicas e sinestésicas se sobressai como meus objetivos enquanto bailarina compositora do WE CAGE.

Por Viviane Mortean, bailarina do WE CAGE
Foto: Jim / Ensaios no studio da PIP/ Bailarina Viviane Mortean

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A coisa / O desprendimento

Segundo o texto de Germano Celant: "Merce Cunningham e John Cage"

Como Cage por diversas vezes escreveu, "nós estamos, nestas danças e nesta música, a dizer qualquer coisa. Somos suficientemente ingénuos para pensar que se dizemos alguma coisa teremos de utilizar palavras. Estamos mais a fazer qualquer coisa. O significado daquilo que estamos a fazer é determinado por quem o vê e ouve."

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Processo e Coreografia de WE CAGE

A coreografia WE CAGE é inspirada na obra "Variations V" (1965) de Merce Cunningham e John Cage. Estudando essa obra, considerada históricamente a primeira envolvendo dança e tecnologia analisamos as relações do corpo movimento e tecnologias possíveis na época ali envolvidas. Como a utilização de aparatos tecnológicos/sensores que permitiam a alteração do ambiente através da movimentação do bailarino no espaço. A investigação nos levou ao aprofundamento diante da fascinante contribuição desses dois artistas geniais e generosos.
Para a construção de WE CAGE escolhemos o seguinte caminho: Aplicação de procedimentos aleatórios/sorteios que nos levassem a perda de controle da coreografia, som e imagens. Em termos coreográficos foi necessário criar esse "algo" a ser sorteado: vocabulário de movimento. O movimento e suas próprias implicações no espaçotempo norteiam o propósito da pesquisa. Pensar em espaço e deslocamento dançando como? Foram elencados sete parâmetros para a produção desses movimentos criados em colaboração coreógrafa/bailarinas: peso, deslocamento,release, mudança de direção,inclinar, de baixo pra cima e torção.
Em termos espaciais Merce foi grande contestador da perspectiva cênica e sempre se importou com a posição do bailarino no espaço chegando dar a ele a autonomia na escolha da região espacial onde a coreografia seria executada. Inicialmente adotamos um mapa espacial que depois de certo tempo caiu em desuso devida a constatação da importância dada ao centro do espaço. Em seguida adotamos novo mapa que valorizava o palco como um todo sem hierarquias. Com vocabulário de movimento apontado e mapa espacial, nos especializamos em vários tipos de sorteios para gerar a coreografia. Sempre que lia sobre o emprego dos sorteios nas coreografias de Merce imaginava que se sorteava tudo poucos minutos antes da apresentação. Mas não é bem assim. Os sorteios ganham alta complexidade exigindo do bailarino estudos e treinamentos anteriores a sua execução. Uma das opções de WE CAGE para gerar os sorteios foi a utilização do computador. Através do software MAX MSP foram desenvolvidas programações exclusivas para esse fim.

"O acaso é também uma forma de disciplina do ego para libertar-nos de nossos gostos e preferências permitindo-nos experimentar coisas de que não gostamos e mudar nossa mente" (John Cage)

Por Carmen Jorge, diretora e coreógrafa de WE CAGE

Procedimento de sorteio coreográfico com MAX MSP para WE CAGE

O "patch" desenvolvido no Max/MSP para o sorteio coreográfico baseia-se em processos randômicos (aleatórios), que "escolhem" o valor de cada parâmetro através de números sorteados. Basicamente são quatro parâmetros: DIREÇÃO, FRASES DE MOVIMENTO,TIPO DE DESLOCAMENTO e ORDEM DE ENTRADA das bailarinas. Os três primeiros parâmetros são individuais, ou seja, cada bailarina terá o seu próprio sorteio. No total são sorteados onze diferentes direções entre 20 possibilidades, 3 frases de movimento e 2tipos de deslocamento entre 6 possíveis. A ordem de entrada é feita em sorteio único e comum a todas as bailarinas, sendo que 3 bailarinas geram 6 possibilidades. Segue abaixo a visualização de um “patch” sorteado para a bailarina Isabela Schwab.

Por Gilson Fukushima

Sorteios Coreográficos através do MAX MSP


Desenvolvimento: Gilson Fukushima e Carmen Jorge
Criação e Programação em MAX MSP: Gilson Fukushima

Esta programação foi desenvolvida exclusivamente para o espetáculo WE CAGE da PIP Pesquisa em Dança.

MAX MSP com Jitter

Max é um software criado em 1989, que consiste em uma interface modular de programação, criada inicialmente para controlar sintetizadores e "samplers" através do protocolo MIDI. Em 1997 foram incorporadas diversas extensões com o objetivo de processar sinais de áudio (pacote MSP - Max Signal Processing), que possibilitou o desenvolvimento de "patches" com maior aplicabilidade para a música eletroacústica. O max opera através de objetos com funções simples, basicamente com linhas de programação de texto, operações matemáticas e a relação entre ambos.
Em 2003 um novo pacote foi adicionado, com a função de expandir sua operacionalidade para o processamento em "real-time" de vídeos, gráficos em "3-D" e Matrix. Esta expansão, chamada "Jitter" permitiu a comunicabilidade com interfaces visuais, processando e gerenciando vídeos e aparatos multimídia.
MIDI

MIDI (Musical Instrument Digital Interface, ou Interface Digital para Instrumentos Musicais) é um protocolo de comunicação criada inicialmente para transmitir informações entre instrumentos musicais e equipamentos eletrônicos. O MIDI contêm basicamente instruções de como será gerado cada evento musical. Com o desenvolvimento de novos aparatos técnológicos, o MIDI vem sendo aplicado para outras funções multimídia que operam com os mesmos parâmetros, como sensores, consoles de iluminação, aparelhos e softwares de vídeo, etc.

Sobre o processo WE CAGE por Isabela Schwab

Para mim “We Cage” vem abrir em Curitiba um espaço de construção da relação entre o corpo dançante e a tecnologia, tecnologia esta que não está apenas no espaço físico na função de suporte para algo, mas sim como um outro tipo de corpo em cena dialogando com o todo. Corpo e tecnologia nesse espetáculo são como uma via de mão dupla, emergem ações e reações em um diálogo entre corpos, sons, objetos, cabos, espaço e direções.
Dentro do processo, um ponto interessante para apontar aqui, são os ajustes que os corpos se permitem fazer para a criação de uma linguagem que é igual na diferença, que tem um foco e um objetivo, mas é aberta para receber informações e entendimento de diferentes corpos em relação a criação de movimentos.
Outro ponto essencial para a construção da linguagem corporal é a função de colocar o corpo na experiência do movimento o tempo todo, segundo Cunningham “capacidade de pensar, de existir por inteiro”. É deixar ser em tempo real, o corpo que fala de corpo, com peso, espaço, direções, limites, agilidade e ajustes em pequenas frações de segundos.
Por hoje duas palavras, que juntas tem um único sentido, podem definir o estado e a vontade que sinto em meu corpo durante os momentos do processo, são elas: Longe Alcance.

Isabela Schwab, bailarina de WE CAGE.

Processos Coreográficos: Sobre Diagramas /Sorteios

Determinamos que houvesse um sorteio para organizar as frases de movimentos. A cada encontro foi construído o método, escolhendo elementos a serem sorteados. Um desses elementos é o espaço, mais especificamente as direções dele. Escolhemos 11 pontos no espaço baseados num diagrama formado por 8 pontos. A primeira dificuldade foi ajustar as frases de movimentos para executá-las nas direções sorteadas, e ainda manter a estrutura da sequência original. Estudamos o mesmo sorteio em mais de um encontro. Aos poucos o estranhamento de ter que realizar a sequência em pontos escolhidos ao acaso se tornava mais confortável, o corpo se adaptava mais facilmente e a cada sorteio o raciocínio ficava mais rápido. Até que em um dos ensaios houve uma observação importante: Nas obras do Merce Cunningham não há um centro fixo. E no diagrama que estávamos usando, acabávamos sempre passando pelo centro, pois os pontos eram localizados apenas nas extremidades. Foi escolhido outro diagrama, mais complexo, com 20 pontos espalhados no espaço, sem possuir um centro fixo. Agora as frases de movimentos podem ir direto para a extremidade ou parar no meio do espaço. Com esse diagrama há a dificuldade de localizar os pontos, afinal passamos de 8 para 20, porem é mais interessante os desenhos coreográficos realizados a cada sorteio. Agora estamos no processo de se habituar a esses 20 pontos e desenvolver estratégias para o corpo permanecer na experiência do movimento e cumprir o sorteio.

“Cunningham constrói sua obra como “fragmento do universo”, e põe nela todas as propriedades que são encontradas naquele movimento evolutivo. A coreografia torna-se parte do todo em que está inserida, e carrega os elementos observados no movimento cósmico: tempo e espaço; lei e acaso; caos e ordem; densidade e expansão.” (Rosana Van Langendonck – Mercê Cunningham Dança Cósmica – Acaso – Tempo – Espaço)

Texto de Mariana Batista bailarina de WE CAGE

Sorteio Coreográfico atualizado / Mariana Batista

Sorteio adotado.

Sorteio Coreográfico Mariana

Sorteio antigo em desuso.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Construção e conceitos pra dança WE CAGE

O projeto de dança WE CAGE aplica basicamente dois conceitos: CONTROLE e NÃO CONTROLE da coreografia, do corpo, do som e do espaço.
A construção da dança que vem sendo investigada teve inicio com alguns aspectos restritivos:
1) O corpo deverá mover-se pelo chão, na posição horizontal e depois na posição vertical;
2)Seis parâmetros embasam a construção do vocabulário coreográfico: PESO, RELEASE, MUDANÇA DE DIREÇÃO, INCLINAÇÃO, DE BAIXO PARA CIMA e TORÇÃO;
3)A construção se aplica para o estudo de movimento pelo movimento sem a utilização de temas ou narrativas;
4)Aplicação para palco Italiano ou condição similar de frontalidade;
5)O espaço será tratado de maneira a não privilegiar o centro;
6)O dançarino fará uso da tecnologia dos sensores para alterar o ambiente;
7)Em toda estrutura que se queira será investigado e criado metodologia para o uso de sorteios e jogos.

Procedimentos Coreográficos WE CAGE / Curitiba


Clique na imagem para ampliação!

Merce Cunningham

Mercier Philip Cunningham (1919-2009) - nascido na cidade de Centralia, no estado de Washington, EUA, é considerado o pioneiro no uso da tecnologia na dança. Na década de 40, época em que iniciara sua parceria com o compositor John Cage, foi também o começo de uma transformação na forma de pensar e conceber a dança estimulada pelos postulados estabelecidos pelo coreógrafo. Tais mudanças podem ser elencadas pelo seu princípio de autonomia entre dança e música, as duas passaram a ser compreendidas como artes que coexistem no mesmo tempo espaço, não estando subordinada uma a outra. Tal principio se estenderia para a cenografia, iluminação e figurino. Na organização da estrutura da dança não haveria hierarquia de nenhuma espécie. Todos os pontos do espaço tem igual valor, assim como não existe um intérprete principal. Da mesma forma não há um grau de importância entre as cenas, não exisitindo a linearidade de começo, meio e fim. A dança não estaria mais subordinada a uma narrativa, uma história ou um mito e qualquer movimento poderia ser dançado. Na década de 50 introduziu o processo do acaso no processo criativo de suas obras. Em 60 iniciou seus trabalhos com vídeo, "surgindo" então a videodança. Em 1989 começa a utilizar o software Life Forms e, no final da década de 90, utiliza o processo de motion capture em colaboração com o Riverbed Group.

Referência: SANTANA,Ivani.Dança na Cultura Digital.Salvador Bahia: EDUFBA,2006.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

VARIATIONS V e JOHN CAGE

VARIATIONS V foi realizada em 23 de julho de 1965, pela Cia. de dança Merce Cunningham, onde o compositor John Cage teve a colaboração de Malcolm Goldstein, Gordon Mumma, James Tenney e David Tudor com filmes de Stan VanDer Beek e vídeos de Nam June Paik. Robert Moog construiu antenas especiais que eram colocadas por todo o palco/espaço, de modo a acionar a música no momento em que os bailarinos passassem por elas. John Cage e David Tudor combinaram dois sistemas de som, capazes de serem acionados através de movimento. Para o primeiro, Billy Klüver desenvolveu um sistema de fotocélulas direcionadas ao palco com luzes, e deste modo, os bailarinos acionavam os sons no momento em que cortavam os feixes luminosos com os movimentos. Um segundo sistema usava uma série de antenas. Quando um bailarino pisasse num cabo resultaria num som. Dez fotocélulas eram ligadas para ativar fitas de gravadores e rádios de ondas curtas. Desse modo, cada performance emitiria diferentes composições sonoras. Cecil Coker desenvolveu um circuito de controle, foram colocados filmes de Stan VanDerBeek e Nam June Paik, manipulando imagens as quais eram projetadas em telas por detrás dos bailarinos.
JOHN CAGE compositor musical experimentalista, poeta, filósofo e escritor norteamericano, ficou conhecido pelo uso não convencional de instrumentos e pelo seu pioneirismo na música eletrônica.Veio contornar a idéia de música como uma série ordenada de notas, voltando-se para outras concepções. Estas experiências abriram portas entre as décadas de 50 e 60, que introduziram diversas ações, ruídos, imagens e movimento para o espaço da performance, tal como no trabalho "Variations V".

*Texto publicado segundo o blog art torrent.